terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Tacho de palavras embalado para presente


Palavra feito fel ardente te dou,
E a gente nem sente o corpo,
Fremente, deflagro a flor na tua boca.
Beija o dom que me dá,
Para que eu fizesse verso que se come.
Pois que sou fome defronte sem lar,
E faço dessa arte horizonte de afeição.

Também queria um verso épico
Para tecer nós diáfanos em ossos ancestrais,
Mas apenas secreto o gesto do lembrar
Tachos de escaldados nutrimentos,
Primário gesto nesse horizonte pequeno,
Que nos traz antes e leva à diante por empanturramentos.

Algo me sai do lábio seco adornado em afresco
Que te conjura nas dobras…
Quero mais, sou desses que mordem verbos...
E te deixo, palavra em pedra e gesso que talha!

A moça me disse
Pra aceitar a dor que não morre,
Pois a cor que escorre da fronte
É igualmente verdadeira.
E que aquém não se fizesse medo
De também olhar para dentro e regar o insonte. 

Trilhar trejeitos suspeitos
É só outro jeito de trincar o insuspeito.

Já agora índios... Outras horas cangaceiros;
Mestres negros e caboclos giram
Por entre cantigas de afetos reviventes.
Enquanto delirantes pirilampos, 
Copulantes, coligem eras no riscar de roças asas.

Em margens de amantes, matas quentes,
Em cidades divergentes,
Toma o estrangeiro um nome sensciente.

Eu era alguém, aquém de terra sou estalo!

Mais uma palavra borda a flora em estribilho
Feito risco em casca de árvore;
Feito cigarra chamando água.
Primeiro gota pequena, depois gota grande;
Tacho, riacho, rio e racho à mar vasto.

Corta um raio a tempestade,
E tudo silencia, ciclo cego de potentoso mistério.
Mar calmo não faz bom marinheiro...”
Esse o estribilho irrecusado de quem margeia!
Mas qual me vem lonjura do ser-tão amaro?

Ah verbo lusitado de venturosas paragens,
Doce e contínua crina de palavra que dê flora.
Ora arremessa um pouco de nós pela secura renhida,
Ora nos corta fino ar de presságios;
A dizer simplesmente: Seja! Ainda assim!
Por todos elementos, seja!
Nem que a morte arrebente a ponte da última esperança!

E dei palavra feito afago que não se adestra,
Pra que fosse voto de minha margem;
Pra te alimentar e te provar por travessas travessias, 
Já profanados de pecados somos,
Exitantes.

Adormeçamos embuchados de palavras...