Amar é ser ponte entre calmas.
Mesmo em tempo de ilhas sem vida, quem sabe,
Alijar dos ombros o peso de uma bagagem morta,
E assombrar pesadelos após a insônia corriqueira.
Amar é ser esse "entre", mesmo quando já desespero.
Mornas águas às quais nos entregamos e despimos,
E já sem vestes nos cuidamos de beijos.
Antes que venham os médicos, quem sabe nos curemos.
A rua serpenteia cinzenta e muda... Piscar de olhos.
Amar é só esse prenúncio orvalho,
Pequeno retalho alaranjado que me lembra
Os dias em que na praia nos beijávamos sujos de areia.
Beliscados por besouros e grauçás, feitos concha de miçanga
Ressuscitamos tanta vez para ouvir dormentes, o vento
Em nosso dorso, confiantes de que tudo daria certo.
Desde as infâncias tem sido essa promessa de coisas distantes,
Enquanto o mundo cabia num afago.
Colhemos por breve o sol,
E o sol ancora o ritmo silvestre e doce de marulhos.
A rua torta, a rua minguante, a rua... Cheia de nervuras hostis.
É fim de tarde. E esse fim de tarde leva de volta
Pra perto da mesma casa, a mesma casa em que nos banhávamos
Com águas de mangueira e cócegas na sola dos pés hoje mareados
De tantas ruas caminhadas.
Mesmo assim as sensações nos desmentem,
Parece que o tempo não passou e ainda buscamos em nós
O sinal de uma maturidade que nos console diante de tantas perdas.
Ela não veio.
Amar perdura mesmo quando perda do amor movente.