Resisto!
Não feito alguém que espera ou defende,
Mas coisa que persiste e se insinua.
Resisto!
Não como quem se esconde ou violenta,
Mas aquele que se conhece e destina.
Resisto!
Onde sinto asco, quando sinto ódio, onde sinto medo.
Trago um profundo fascínio
Por todo aquele que admitiu trazer em si
Algum rancor pela humanidade;
Por todo aquele que se soube cruel,
Por quem não esqueceu de que já foi sórdido, baixo, vil.
Há tempos prometi causas e realizei profecias...
Tendo perseguido fomes e fantasmas,
Que nos preparasse algo grandioso.
Ah, revolucionários do mundo,
Do mundo de tantos cárceres consentidos...
Talvez a cela em que os vejo de fora
Seja somente a metade da mesma
Talvez haja em mim uma agudeza obsessiva
A edificar o incomunicável e irreal.
Em quantos planos sinistros fomos presumidos?
Há muito a Terra cobriu-se dos feitos para ser o que não querem!
Mas neste mesmo instante nos encontramos tragicamente livres
Para desistirmos de sermos quaisquer coisas.
Então vi que havia um sonho que dormia dentro do sonho...
Um mar se voltava contra nós sulcando falhas em pedra à esmo.
Em noite assim, noite breve,
Quando teus pesadelos dormem,
Já não há lugar para adiamentos.
Fazendo-me coisa defeituosa e terminada por fora,
E o futuro a ser coisa perfeita e inacabada por dentro.
Na cama entre amantes secretam-se promessas e sussurros.
Tua cidade, teu país, tua rua assemelham-se talvez a retalhos
Tantos seres-de-carne-feito-gente
Borbulham ante paradoxos,
Aos que não se reconheceram consagrados à cadentes identidades ou ideologias.