quinta-feira, 30 de julho de 2020

LEMBRANÇAS DAS HORAS TARDIAS (A tant@s companheir@s de copo e faina)


Resisto!
Não feito alguém que espera ou defende,
Mas coisa que persiste e se insinua.
Resisto!
Não como quem se esconde ou violenta,
Mas aquele que se conhece e destina.
Resisto!
Onde sinto asco, quando sinto  ódio, onde sinto medo.
(Amar é preciso e já não basta)
 
Trago um profundo fascínio
Por todo aquele que admitiu trazer em si
Algum rancor pela humanidade;
Por todo aquele que se soube cruel,
Por quem não esqueceu de que já foi sórdido, baixo, vil.
 
Há tempos prometi causas e realizei profecias...
Tendo perseguido fomes e fantasmas,
Acreditei na vinda de algum deus-feito-carne
Que nos preparasse algo grandioso.

Ah, revolucionários do mundo,
Do mundo de tantos cárceres consentidos...
Talvez a cela em que os vejo de fora
Seja somente a metade da mesma 
Gaiola em que me vejo de dentro.
Talvez haja em mim uma agudeza obsessiva
A edificar o incomunicável e irreal.
 
A quantos fracassos alheios nos requisitaram?
Em quantos planos sinistros fomos presumidos?
Há muito a Terra cobriu-se dos feitos para ser o que não querem!
Mas neste mesmo instante nos encontramos tragicamente livres
Para desistirmos de sermos quaisquer coisas.
 
Então vi que havia um sonho que dormia dentro do sonho...
E antes da hora da estrela caída,
Um mar se voltava contra nós sulcando falhas em pedra à esmo.
Em noite assim, noite breve,
Quando teus pesadelos dormem,
Já não há lugar para adiamentos.

Ando por entre vias entrincheiradas ante o passado
Fazendo-me coisa defeituosa e terminada por fora,
E o futuro a ser coisa perfeita e inacabada por dentro. 
Na cama entre amantes secretam-se promessas e sussurros.
Tua cidade, teu país, tua rua assemelham-se talvez a retalhos 
Dum vasto império belo e derrotado.
E a história de tudo isso mal caberia em teu orgulho.

Mas a essa mesma hora, em outros lugares
Tantos seres-de-carne-feito-gente
Borbulham ante paradoxos,
Imaginando-se quem sabe, também sozinhos.
 
Dedico esse poema aos que não tiveram sossego,
Nem contemplaram o próprio rosto em anúncios e profecias;
Aos que não se reconheceram consagrados à cadentes identidades ou ideologias.
Dedico esse poema aos que ficaram para trás!

Mas sobretudo... o dedico aos que beberam comigo.
 

quinta-feira, 23 de julho de 2020

SONHO CIRCENSE - poema beeeemmm empoeirado à maneira dos românticos rs


Giras pousa como num sonho,

Girândola fausta e graciosa.

Deita-me tua face amorosa,

E tornas o meu dia risonho.


Cinjam-me os dragões e as andas,

Que o mais é esquecimento.

Tudo se vai, todo ermo e vento.

Tuas cores!? Quais dores abrandas? 


Giras tonta feito uma canção,

Feito flâmula hinária e fulva,

Que esta nobre arte é oração,

A distrair minh’alma turva.


Girasã, girassóis, girarás...

Como o sol: triste é o arrebol...

Mas cada manhã desata um nó...

Com ele vão-se minhas iras.


Jazem tantos corações aqui:

Ingênuos e néscios, errantes.

Amo a todos de um jeito faquir,

Acalmo entre farpas cortantes.

Também a todos feito seta,

Massa fria e reta a vos ferir.

E por esta flor que em mim resta,

Sem vos lacerar, sem me consumir.


Vou certo de não ter princípio

Decerto alço uma filosofia.

Mas qual doido não alçaria?

Tenho a confusão no princípio.


No meu diário mora um soneto,

Cada sua imagem depõe uma ideia.

Silenciar é teodicéia,

Mesmo em sonho me comprometo.


Do alto do meu delírio

Brotam lírios pelas paredes.

Perfumando o ar quando credes:

A verdade é menor que o cenário.


O circo arde em grossa chama...

Hoje um deserto foi semeado...

E com mãos doídas puxo o arado.

Não o meu, mas teu ânimo me anima...


Vi a criança-rei e o palhaço...

Cantorias já tão distantes,

Trazem-me hoje o que era antes

O fulgor do teu terno laço.


Ah, eu te vi: a sorrir, muito.

Espelhado em teus olhos garços,

Mosaico singelo de abraços,

Tornamos-nos gesto gratuito.

E tu giras agora no sem fim...

Criança em eterno carnaval...

Como se não bem e nem mal,

Remisse a fera eterna em mim.


domingo, 19 de julho de 2020

TARDE IDÊNTICA


O crepúsculo estende seus dedos sobrenaturais

Sobre telhados de longes serras maciças e casas macilentas,

Gotinhas lacrimosas na superfície calma de pastagens.

Eu, miudamente protegido,

Miro por detrás da janela do carro

Visões que me visitam vindas do lá fora em movimento.

Chuva sobre bois, porcos, cabras,

Sobre sapos, aves e peixes;

Chuva sobre insetos e lagartos imensos e famintos.

Junto ao charco alguma gente.

Por que  será, não me deixa essa vontade infantil

De visitar distâncias impossíveis?

E que me empurra por sentimentos contraditórios...

Ah se eu pudesse só por hoje sabê-los... Tantos...

Que se ajuntam ao corte dessa terra

De fertilidades sem propósitos.


Achei que a vida é tão somente a mesma paisagem inundada,

Movente de novidades para quem anseia amoroso os regressos.



HÁ UMA ROSA NA PIRAMBEIRA


Chega pra cá sem dó, oh... Vida... 
Não sê fácil demais...
Mas nem vem decomforça também, pode ser?
Sinceramente espero
Que ainda nos bem daremos.

E até ficar assaz essa prosa, tem calma comigo.
Bote fé! Vai rolar...Até lá, só me salva a reputação,
E releva no que desvela
Essa Poliana que há em nós.

Seria singelo não haver padecer neste mundo...
Mas nele estou, raso ou profundo, estou,
Pelo coice das ações, chumbo das palavras
Contra o osso duro em nós.

Há quem diga que os bichos que somos 
Ceiam mentiras dos cabarés.
Nada poderia ser tão falso e bom!
Mas já não importa quem seja
O mais vil treteiro nessa contenda...
(Eu já particípio, rasgo a rua no segundo fim)

Eu, cheio de paradoxos
Também sei, há uma rosa na penedia...

Queria uma revolução completa começada agora,
E pudéssemos ser trapezistas, anjos ou baristas de hotel,
E ousássemos perseguir o vilão até as portas do último céu quebrado.

Em total descompostura imaginei qual mundo desse fim...
Mas comecemos partilhando beijos, vinhos e unguentos!

segunda-feira, 13 de julho de 2020

TODO FEITO PARA AMAR (Uma canção)


Crianças desertam, com a nitidez carnaval.
Escolho meus versos como um deus num portal.
Santos dançam, em meu céu Rock and Roll!
E um profeta louco despertou na cidade,
Meu tudo é banal

Nítido espaço devasso a canção...
Descentro a imagem que me faz o que sou...
Configurando o ato da distância que é o amor,
Sou destino de uma flor, me vou,
Espectro de passagem pra qualquer lugar.

Mães que cantam a mesma prece,
Pra que eu possa libertar.
Vozes do passado que me seguem,
Que me dizem pra sonhar.
O meu corpo se prescreve,
Todo feito para amar.
O meu corpo todo se prescreve.
Todo feito para amar.