Uma esperança moribunda e pobre,
Que de tanto pesar já não move,
Se apresa nas fileiras da lida.
Há quem diga, seja rancor já sem vida;
Tem quem creia, seja fome, dor fincada no não mais.
Talvez seja só desespero
Dessas Good vibes tóxicas que não sabem chorar.
(Mas quando o mundo se acabar, quem fará nosso luto, obituário das noites tenebrosas?)
A outra esperança é real e mais singela, não espera,
É revolta de revoada, cesura inconformada contra o medo e apatia.
Gosta de poesia. Conversa com animais.
Luz e sombra em fevereiro. Selvagem destempero que abre o há de vir.
Quer mais.
Eu fui um doido que abraçou a ambas.
Cumpri loucuras que mal sabia, esquecido de mim à revelia.
Poderia ter sido cego...
Tudo muda, tudo queda, dor e prazer viram merda.
Justiça, merecimento, transtorno ou destino são filhos do tempo que mal pressentimos.
Eu?!
Acreditei num mundo vindouro para além do meu destino:
De ternura,
Com seres feitos de menos ódios e mágoas, menos orgulhos e amarguras.
Sem que fracasso e arrependimento nos definam.
Mas também doei calamidade. Sou insônia.
Em minha fragilidade, disparei rebeldia contra o insulto totalitário dos eternos.
(Como não tomar partido nessa guerra pela vida que é a vida? )
Erramos às vezes...
Eu tive medo.
Mas não quis me tornar arrependimento.
Quis o reverso.
Ah sonho miúdo do meu apreço, bem acreditei nos recomeços dos beijos e versos.
Não! Eu não busquei o inimigo na noite escura, na tarde vazia ou minha clausura.
(Bastava-me a felicidade bem temperada)
Mas ele veio mesmo assim... Com mentiras e garras, faca amolada. Face dura que não esqueci.
Da primeira vez não pude nada, senão fugir.
Só que não, não mais. Nunca mais...
Buda sabia: não há felicidade para quem vive ao seu encalço.
Mas se a felicidade continuar frágil ou miúda,
Urgente será agir, mesmo que pelo silêncio crasso.
Cansei de ser o escravo;
Forasteiro preso na Casa Grande,
Paralisado pela ânsia auto-congratulatoria da denúncia.
Ah, desapreço da calúnia!
Cansei de ser a mentira parasitária, provisória-pra-todo-o-sempre;
De ser o acidente que escapou do motim, vergonhoso de salvamento.
Desprezo agora a espera impotente!
E não mais serei o açoitado:
Fugitivo que pelos porcos traído,
Morreu sonhando ser libertado por Isabel no botequim.
O meu sonho é Zumbi!
Não se pode caber no sonho alheio.
Caminhar junto é dar as mãos... Não é seguir...
Quando jovem, um vento passou
E a flor do meu sonho foi despetalada.
Era como se eu quisesse nunca ter sonhado,
Por não saber esperar a esperança
Dentro dum sonho que nunca esqueci.
Conhecer é caminhar sem volta pela ruína,
Mas amar sozinho é não ter para onde ir.
Desposada a imensidão,
Descobri que havia extraordinário
Nas pedras e sementes, nas crianças e nos colibris.