Giras pousa como num sonho,
Girândola fausta e graciosa.
Deita-me tua face amorosa,
E tornas o meu dia risonho.
Cinjam-me os dragões e as andas,
Que o mais é esquecimento.
Tudo se vai, todo ermo e vento.
Tuas cores!? Quais dores abrandas?
Giras tonta feito uma canção,
Feito flâmula hinária e fulva,
Que esta nobre arte é oração,
A distrair minh’alma turva.
Girasã, girassóis, girarás...
Como o sol: triste é o arrebol...
Mas cada manhã desata um nó...
Com ele vão-se minhas iras.
Jazem tantos corações aqui:
Ingênuos e néscios, errantes.
Amo a todos de um jeito faquir,
Acalmo entre farpas cortantes.
Também a todos feito seta,
Massa fria e reta a vos ferir.
E por esta flor que em mim resta,
Sem vos lacerar, sem me consumir.
Vou certo de não ter princípio
Decerto alço uma filosofia.
Mas qual doido não alçaria?
Tenho a confusão no princípio.
No meu diário mora um soneto,
Cada sua imagem depõe uma ideia.
Silenciar é teodicéia,
Mesmo em sonho me comprometo.
Do alto do meu delírio
Brotam lírios pelas paredes.
Perfumando o ar quando credes:
A verdade é menor que o cenário.
O circo arde em grossa chama...
Hoje um deserto foi semeado...
E com mãos doídas puxo o arado.
Não o meu, mas teu ânimo me anima...
Vi a criança-rei e o palhaço...
Cantorias já tão distantes,
Trazem-me hoje o que era antes
O fulgor do teu terno laço.
Ah, eu te vi: a sorrir, muito.
Espelhado em teus olhos garços,
Mosaico singelo de abraços,
Tornamos-nos gesto gratuito.
E tu giras agora no sem fim...
Criança em eterno carnaval...
Como se não bem e nem mal,
Remisse a fera eterna em mim.
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