quinta-feira, 23 de julho de 2020

SONHO CIRCENSE - poema beeeemmm empoeirado à maneira dos românticos rs


Giras pousa como num sonho,

Girândola fausta e graciosa.

Deita-me tua face amorosa,

E tornas o meu dia risonho.


Cinjam-me os dragões e as andas,

Que o mais é esquecimento.

Tudo se vai, todo ermo e vento.

Tuas cores!? Quais dores abrandas? 


Giras tonta feito uma canção,

Feito flâmula hinária e fulva,

Que esta nobre arte é oração,

A distrair minh’alma turva.


Girasã, girassóis, girarás...

Como o sol: triste é o arrebol...

Mas cada manhã desata um nó...

Com ele vão-se minhas iras.


Jazem tantos corações aqui:

Ingênuos e néscios, errantes.

Amo a todos de um jeito faquir,

Acalmo entre farpas cortantes.

Também a todos feito seta,

Massa fria e reta a vos ferir.

E por esta flor que em mim resta,

Sem vos lacerar, sem me consumir.


Vou certo de não ter princípio

Decerto alço uma filosofia.

Mas qual doido não alçaria?

Tenho a confusão no princípio.


No meu diário mora um soneto,

Cada sua imagem depõe uma ideia.

Silenciar é teodicéia,

Mesmo em sonho me comprometo.


Do alto do meu delírio

Brotam lírios pelas paredes.

Perfumando o ar quando credes:

A verdade é menor que o cenário.


O circo arde em grossa chama...

Hoje um deserto foi semeado...

E com mãos doídas puxo o arado.

Não o meu, mas teu ânimo me anima...


Vi a criança-rei e o palhaço...

Cantorias já tão distantes,

Trazem-me hoje o que era antes

O fulgor do teu terno laço.


Ah, eu te vi: a sorrir, muito.

Espelhado em teus olhos garços,

Mosaico singelo de abraços,

Tornamos-nos gesto gratuito.

E tu giras agora no sem fim...

Criança em eterno carnaval...

Como se não bem e nem mal,

Remisse a fera eterna em mim.


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