terça-feira, 15 de março de 2022

Gênesis

 

Não é só na arte.

Na vida também há momentos de criação.

Tempos que nos pedem

Compromisso e desprendimento.

Sem manuais, réguas e regras,

Nos entregamos à agitação por detrás da querela.

Será que há contas com muitas esperas e comedimentos? Seremos o bastante? 

De qual matéria única da tabela periódica fomos feitos?

Em momentos assim, seria bom se despedir dos velhos imãs de geladeira, álbuns de fotografia, marcadores de texto e números em desuso na agenda. 

Deixar para trás esse peso morto que nos rouba a poesia... 

Valeria dispensar a inocência, rir do que não se entende.

Formiga de asa na chuva relampeada:

Ai revoada! Ai revoada!

Há momentos de sermos coisa bruta: desejo e invenção.

O há de vir que nos assusta.

O golpe seco dos mundos.

A curva da multidão.

Nunca haverá ponto zero da criação,

Mas quando se vem assim, é paixão à galope

Num salto para o absurdo;

Poder primário dos sonhos. Pulo rasgando o cascalho de tudo.

Naquilo que não existia antes do termos pulado, há delícia do impredicado. 

Tempo raro que não repete reparo.

Sou Deus depois do ocaso, e retiro do caos indiferenciado, do vazio, todo um mundo e ocasião.

Tempo enfim de chorar e sorrir. De, quem sabe, fazer chorar e sorrir.

Tempo de rasgar a veste da certeza sobre a mesa do ainda não.


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