quinta-feira, 1 de outubro de 2009

AS CHAVES

Imaginei um tempo de muros transitórios
Feito fumos, de pequenos pecados abertos à visitação.
Casas e praças habitadas por pessoas sem portas havia,
E tantas teias gordas de bichos embaraçação.
Mundo já sem normas, polícia ou juiz,
Sem crime, carrasco ou delator.

Fui à curva do rio catar um segredo,
Catei.
Catei mais outro,
E outro ainda.
Gastei a curva!
Mesmo depois da desprecisão,
Era de valia escutar um "Deus perdoe!"
Deus lhe guarde ou leve..."

E matutei: será que um deus triste feito pecado inda vive,
E só eu é que não sei  e nem onde?
Nem mesmo se é Deus e se dança ou aprochega em transe?
Permanecimento inquieto...

Derrubado o farto medo,
Perigo do vulgo é o defronte.
Há de se tomar pequeno pote
E dar de beber ao rés do chão.
É no chão que dobra vã valentia
E a gente sabe, de um saber que não se consome,
Coisas de mortes mesmo que nem
Longes mortes anunciadas.

Quando criança desgostavam-me densas demografias.
Queria diluir-me para sempre, para sempre...
Brisa por que movente...
Para quê quem sabe nunca mais me vissem.

Será que tudo não passou de centeio hereditário?

Recordo qualquer incidente inventado:
O telefone de casa tocou diferente
De quando ficou óbvio falar por um fio que se ouve.
Meu pai atendeu na sala de estar tudo bem.
Naquela casa quieta como me lembro.
Ao outro lado do aparelho ofereceram-se chaves e bugigangas,
“Chaves para que?” - perguntou meu pai.
“Não temos cartão de crédito e, daí pra dentro,
Já estamos fartos!”

Sigo, feito folha engordurada em seiva de noite vencida.
Cresci!
Ou será não ter crescido?
Só me perdido, desmembrado galho.
Grassando em futucar,
Amanheci-me na beira do estrago.
E lá estava eu, lendo livro velho de bugigangas.

E o meu pai já não atendia o telefone lá de casa

Nenhum comentário:

Postar um comentário