segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Mensagens Ancestrais (poema beeeemmmm empoeirado, ao modo dos simbolistas)

 

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso


                        Mário Quintana


Rosas efusivas exalam,

Misteriosas na roda

Melífluos odores outonais.

Rasteiras cancioneiras d’amor,

Vestem altaneiras à guisa

Dos vastos rumores siderais.


Desata a vetusta odisséia,

E nos assombra uma alva idéia...

A máquina sonora soa:

De que é feito de cinza e ócio

Um soneto perfeito e dócil,

Caiado conceito que esboroa.


Apequena a ideia pura:

Ao invés da pedra dura,

A híbrida aquarela captada.

Donde houvera hastear velas?

Hei de colher outras querelas,

Ou um brando canto de mansarda?


Não me basta a terra e os mares,

Mas a curva do cais e as gares;

Quadro coarado além da janela.

Nem quero desgosto ou correntes:

Envergo o delgado nepentes

Esguichando em carne singela.


Não mais endechas calcitrantes,

Mas o sumo lasso escorre antes,

A despeito do despeito.

Digere e explode em distâncias

Breves, e sincopadas folias:

Sono, adormeça em manso leito.


Ébrios têm sido os meus dias.

Desde o despertar, doce criança,

Minha andança dança em penedias.

Paixões enganchadas ao pescoço;

Presas cariadas em alvoroço;

Cochicham entre si covardias.


Uma caixa em mim ressoa ânsias.

Busco brisas, feixes espectrais,

Alço glabros campanários.

Turibulários rezam Krishna,

Enquanto um obituário afixa

A lixa do tempo em carnavais.


Penso que a palidez óssea do papel

Seja mais sincera que um laurel,

Fumaça etérea das essências...

Excrescências da humanidade,

Não tenham mais iniqüidade

Que as episcopais audiências.


Penso que não há nada anormal

No desassossego do poema.

Ele é par e avoengo arremedo,

Do presságio de um mau aedo;

De tudo que se vai mais cedo,

Seja por desgosto ou medo banal.


Há um rochedo de incompreensão

Anteposto entre tu e tu mesmo:

Instaura a ordem nova no agora!

Para o espaço do amanhã vão,

Nenhuma esperança consola:

Desejar é achar o ermo e a hora.


Foge do casto eremitário,

E erige abruptos quiasmas;

Asperge eflúvios esmegmais.

Arrisca-te em virulentos miasmas,

E nada de mais especula

Sobre o que bem sabes demais.


(Oh bruma dos dias! Espumas do mover-se eternamente em que tudo cintila e de tudo se assenhora, vida, querer e morte... Ancestrais, enigmas meus, saudades e espessuras do tempo e ruína. Onde será que dormem agora? O que será dos mortos que não nos deixam? O que haverá do antes e depois anunciados nessa penhora?)

Nenhum comentário:

Postar um comentário