Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Mário Quintana
Rosas efusivas exalam,
Misteriosas na roda
Melífluos odores outonais.
Rasteiras cancioneiras d’amor,
Vestem altaneiras à guisa
Dos vastos rumores siderais.
Desata a vetusta odisséia,
E nos assombra uma alva idéia...
A máquina sonora soa:
De que é feito de cinza e ócio
Um soneto perfeito e dócil,
Caiado conceito que esboroa.
Apequena a ideia pura:
Ao invés da pedra dura,
A híbrida aquarela captada.
Donde houvera hastear velas?
Hei de colher outras querelas,
Ou um brando canto de mansarda?
Não me basta a terra e os mares,
Mas a curva do cais e as gares;
Quadro coarado além da janela.
Nem quero desgosto ou correntes:
Envergo o delgado nepentes
Esguichando em carne singela.
Não mais endechas calcitrantes,
Mas o sumo lasso escorre antes,
A despeito do despeito.
Digere e explode em distâncias
Breves, e sincopadas folias:
Sono, adormeça em manso leito.
Ébrios têm sido os meus dias.
Desde o despertar, doce criança,
Minha andança dança em penedias.
Paixões enganchadas ao pescoço;
Presas cariadas em alvoroço;
Cochicham entre si covardias.
Uma caixa em mim ressoa ânsias.
Busco brisas, feixes espectrais,
Alço glabros campanários.
Turibulários rezam Krishna,
Enquanto um obituário afixa
A lixa do tempo em carnavais.
Penso que a palidez óssea do papel
Seja mais sincera que um laurel,
Fumaça etérea das essências...
Excrescências da humanidade,
Não tenham mais iniqüidade
Que as episcopais audiências.
Penso que não há nada anormal
No desassossego do poema.
Ele é par e avoengo arremedo,
Do presságio de um mau aedo;
De tudo que se vai mais cedo,
Seja por desgosto ou medo banal.
Há um rochedo de incompreensão
Anteposto entre tu e tu mesmo:
Instaura a ordem nova no agora!
Para o espaço do amanhã vão,
Nenhuma esperança consola:
Desejar é achar o ermo e a hora.
Foge do casto eremitário,
E erige abruptos quiasmas;
Asperge eflúvios esmegmais.
Arrisca-te em virulentos miasmas,
E nada de mais especula
Sobre o que bem sabes demais.
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