sábado, 30 de outubro de 2021

Carnes e flores


Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

Machado de Assis


Meu vasto amor, chiste derrotado,

Em que pecou de não ter pecado?

Queria entrar na doce esperança,

Fio com a lividez duma lança

A ferir onde já machucado?


Meu porto-amor, sono de não sorrir,

Fosse uma flor pálida e mimosa,

Belicosa de espinhos: A rosa! 

Egressa memória que desperta aqui,

Dela vêm versos velhos do meu partir.


Deixo perdões fininhos pra pecadinhos curar;

Virgi Maria, na tarde roxa a rosa há de voltar.

Recordo-me dum nenúfar da lagoa que nunca vi, 

(O li pelo meio e já tarde... A orelha ardia em carne)

O li como o visse de longe numa nave a fulgir.


Não sei o que seja um nenúfar da lagoa. Mas o imagino como se o soubesse. 

Recordo o nenúfar imaginado de quando o li embasbacado.

Nenúfar da lagoa espessa e profunda que atordoa,

Seja gentil com esse lábil esquecido.

E me faça encontrar obsoletos aboios de ventos que me atravessem rio,

Pois que minh’alma outrora sã e caprichosa, 

Já não cura ou quebra a dureza dos nós entre os fios...

Deforme de não sorrir por toda ventura,


Desposo a paixão, gládio da loucura. Cuspo ao chão nostálgicas amarguras do fremir eterno...


Minh’alma... Arremedo de coração

Quase morto de descompasso;

Minh’alma... Escrava da canção,

Ensaia o laço da cisão no encalço da ternura.


Nenhum comentário:

Postar um comentário