Meu sonho, alento de sonhar-te,
É a janela intacta em que me reconheço.
E o meu peito, confissões já findas
Onde me acumulo, ausente de pensamentos:
Tua mão toca e dissolve o que em mim ainda é ruína,
Eu te beijo e acolho, o que em ti é sombra e mistério...
Ando a falar e caminhar flores e estrelas,
A resgatar pássaros, reis e os que se vão.
Semelhante a um estrangeiro louco ou criança,
Pois que em mim nada será vão.
Incerto que sou de tudo,
Como sou certo de que vives em mim?
Febrilmente vibra a carne,
Incessantemente germinando,
Me alegro em silêncio, dia e noite dedicado a ti.
Já não bastaria olhar os campos com ternura,
Desvencilhar-me de anseios futuros;
Echer de poesias brandas
As paisagens por detrás dos muros.
Quero visitar-te em minha fome-quando-arte impregnada de tempo.
(Quero caminhar juro contigo)
Não deixarei que nenhum fragmento de vida ou morte
Sofra mais meu descaso.
Queto doar e acarinhar até o que não responde, o que não pertence;
Até que um dia tornar ao útero da terra
E lá, de repente, me alojar...
Eu te busquei como se levasse a cura,
Apaziguando sede e insônia de quase mortos.
Mas em ti redescobri: era eu quem convalescia,
Abrigando o frio de um morto.
Tu me trouxeste repouso e virtude,
Lubricidade da renúncia.
Eu cri, todas essas coisas não passavam de falso conforto.
Mas quando tive a beleza das coisas naturais que me trazia,
Enxerguei o quanto eu era pobre...
O quanto estava gasto...
Ah quisera beijar-te amanhã
Com o mesmo silêncio com que te beijo hoje...
Reivindicar teu sorriso, catedral de anjos caídos...
Teu mistério põe brumas em meu céu convicto.
Meu beijo, é o manto natural com que te visto
E, no entanto, tu és riso matinal que desperta,
Cheio do gládio e frescor de quem tem nascido.
O meu desejo de ti é uma fé primitiva que reconcilia...
Fosso abismal já sem ânsias efêmeras...
E o teu corpo, coisa indivisa,
Prelúdio e vida que me arrasta e cria...
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