segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Se vem noite, desperto.

 

Sonhei com a mulher do meu sonho. 

A bela cantando catava pedras por entre arroios.

Eu a busquei nas criaturas ermas... A busquei na quietude desperta!

Oh seres que por cima dos muros dormem e já não ferem. 

Ainda querem duras âncoras segurando as peles?


(Nem mesmo o mau demônio era infenso)


Não sei se por medo ou afeto, se por insensatez,

Esse tempo que nada venera, o que me fez? Não sei. Não sei do que virá, virei.

Sei que a bela em tempestade eu lambia, gelia de olhos baços, vagos, cerrados de fera.

Trêmula de incerteza, amor e gozo.


Por toda noite há cidades. Demais motivos e contrariedades há. 

Há visgos e outros notívagos, como ela - e eu.

Quanto a nós, nos espreitávamos até a dor de não ter mais morte.

Tempo em que do tempo se esquece...

(Se ao abrigo da maldade, não se hospeda covardia)


Onde há entrega não há injúria ou inverdade. Nem medo do que não espelho. 

Não mais tenhamos medo, querida.

Nos espreitemos até, dentro do desejo de nos ferirmos, 

Para que não mais nos firamos.


A partir do agora, deixemos as cerimônias de fora.


Qual sonho ou mágoa persiste em nossa casa?

Qual vento e areia em brincadeira de formas nos des-forma?


Ah, não valem mais minhas únicas mãos,

Nem meus únicos pés valem,

Sequer as palavras se comparam

A um breve passeio pela transversalidade da noite ao teu lado.


Antes do vir a ser do dia,

De toda labuta renhida,

Todo corpo se comprometeu e insinuou

Onde a moral estava ausente.

Há o querer bem. Restou-nos desejo. 

E o desejo nos consente mais noite.


Breve estalo, rabeio de crina, ferrugem malina pede minha língua ferina entre tuas pernas e dentes.

 Minha linda felina.

Acharei sulcos em teu corpo;

Silêncios de terras invisíveis e gentes que desconheço.

Improváveis gentes em memória de mordiscadas nessa carne de vida divina no que é te ter em madrugada.


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