domingo, 13 de setembro de 2009

CARTA AOS QUE PASSAM

Quando eu morrer gostaria de ter sido apenas
Uma criança que foi à padaria,
E que no caminho de volta
Sabia o quanto era bom
Comer o miolo por dentro do pão.

Em dia de enterro, de gente grande,
Brinquei se houvesse de brincar.
Eu não entendia porque os viventes
Quase morriam e choravam tanto.
Não disseram que havia um deus e que era bom?

Quando eu morrer não venham inventar algum meu heroísmo,
Nem bastará o lirismo dos meus poemas e amores.
Saibam apenas que vivi,
E não sei se foram mais, os dias felizes ou os infelizes.
Mas assisti a correria do tempo
E schava louco que se tirasse prazer da
dor humana.
Mas recebi o amor... Mas percebi o amor... E gostei... E retribuí...

Se quiserem, se puderem, se aceitarem, chorem, chorem muito.
Mas peço favor:
Não percam seu tempo com lamentos.
Se quiserem, amem-me agora, e atirem amor sobre meu corpo vivo, 
(Melhor que a melhor flor sobre o morto)
(Não quero na morte quem comigo não esteve de fato em vida)

Quando eu já estiver morto,
Abracem... Um cão, um gato, uma árvore,
Ou um bife mal passado.

Assim como todos,
Hesitei ante uma porta.
Assim como tantos,
Fiz parecer fácil a solução para os problemas dos outros.
Como tantos,
Esperei o alguém que solucionaria todos meus problemas.
E como tantos,
Visitei o extraordinário e realizei profecias.

Ora, a eletrodinâmica, a genética e a quântica
Não me convenceram de que tinham "a resposta".
Amanhã as ciências de hoje
Assemelhar-se-ão todas a um equívoco.
E eu, que parecerei?
E eu, que padecerei?
Ora, não tenho respostas.

Quando eu morrer saibam
Que aprendi a nadar e andar de bicicleta
Com alguém em quem confiava.
E até persegui promessas de felicidade de que duvidava
Mas tive um amor que segurou minha mão.

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