quinta-feira, 17 de setembro de 2009

ORAÇÃO INSUBORDINADA NEGATIVA

Não quero o mundo certo das graças alcançadas,
Mundo vertical que engasga o corpo
Cifrado, faz do oposto um inimigo.
(Sem que mesmo ele desconfie da nossa má amizade)

NÃO! 

Não serei mais ao golpe dos movimentos retos
Em tabuleiros simétricos esperando o xeque mate.
E jamais poderei viver inteiro
Sem antes desmembrar-me
Da miragem de tantas democracias caducas!

Ai deus meu, livrai-me desse mundo recitado, requintado,
De quadros comportados decorando a parede.
Qual ato vicário das escrivaninhas e falatórios
em que perdemos o gosto das inesquescências.

NÃO!

Não quero a magnitude dos acordos possíveis
Substituindo afetos não doados.
E nenhuma agrimensura acatarei neste des-território.
Já não me servem profecias auto-realizadas,
Muito menos o gozo vão do dizer:
"Ah, viram como eu estava certo!?"

NÃO!

Eu não quero estar certo!
Mas também não quero os incapazes de trair.

Enterro a fidelidade cega dessa moralidade
Que reclama o homicídio da dignidade.
Enfastiei-me de cânones, cacoetes e puxa-sacos.
Nem bem me cai a ofegância dos cavalos de corrida
Galopando gloriosos em façanhas.
Renego gratas comodidades futuras
Por benefícios à "comunidade"...
E aquele prazer em dizer:
"Ah, basta uma ligação minha, e fulaninho... já era!"

MIL VEZES NÃO!

Nem mesmo um lugar entre as minorias oprimidas
Do planeta eu tive, ou me foi viável.
Não me coube qualquer rótulo politicamente válido,
Não me coube a franquia das identidades.

NÃO! 

Não quero a roupa sempre nova,
A pompa, sapato impecável e o medo do desterro.
Porque de mim mesmo fui desterrado.
E desconsidero os que dizem por aí
Que se preocupam comigo, que na penumbra perguntam,
Alheios, como estou... São do maior perigo...
Dispenso agora a complacência dos falsos,
Seus atentados ao sacro direito do devanear... 
O direito à dança...

DIGO NÃO!

Enquanto isso, sem que nos déssemos conta...
Perdemos um verdadeiro amigo e pra sempre...
O segundo passo, quem sabe, sentir que não houve perda,
Ou que ela foi pífia em nossa tanática taxonomia.
O terceiro: seguir perdendo mais por conivência...

NÃO!

Não quero o mundo dos que imitam ou temem ser imitados,
Dos que economizam sentimentos,
Ou creem que experiência é manual certo para conselhos.
Na contabilidade dos encontros,
Não quero o mundo dos que morrem por precipitamento.
NÃO! 
Não a essa vida de conveniências,
Nela falhei, falhei completamente

NÃO!

Não! Não! Não! E Não!
Quantas vezes me for preciso negarei:
Adolescente, narcísico, egoico, insubordinado!?
Não quero, posso ou espero
Carregar a bagagem morta do não tentado,
Do perdido, 
Do só temido por não amor.

Em nome do pária, do estribilho, e do espiralado pranto:
AMEI!

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