quarta-feira, 16 de setembro de 2009

CANAVIEIRAS (Ao meu pai e avós - esses últimos que já se foram)

Canavieiras permanecera em minha memória
Onírica morada do enganosamente recôndito.
Conferiu-me um torrão de luz
E por ele me resgato.
(Viço de várzea dengosa ribeirinha)

Minha nudez é glosa, do que de lá fôra indecifrável,
Do que de lá se encaminhara serenamente.
Meu contemplamento,
É verbo de vento vezes vago e impróprio...
Por um instante redimiam-se meus pretextos
Para uma vida sem significado grandioso.
Mas é que tudo caberia
Num espaço modesto e inteiriço.

Evoco tua doçura de menina.
Distante das turbulências de adolescente e das sombras da passagem,
E reaprendo o amor do tempo lento da infância.
Essa sub urbanidade perfumada de chocolate e coisas marinhas,
Simples e permanente.
Carne de carambola amanhecendo-se de orvalhamento,
Sumarências de frutas e mariscagens, côcos,
Aromas pelas árvores e seres em mutação.

Periquitos revoavam entre lôdos-mangues à tardezinha,
E à noite, quem sabe, se recolhessem numa estrela.
Eu, abandonado ao seu ritmo,
Aprendia coisas que não se esquece, como:
Andar de bicicleta, nadar e beijar.

E quando em seu colo, demitia-me da sensação
De que meu corpo padecia de qualquer incompetência.
E mais, decidi que nas doces bocas, águas e pedais
Estão os melhores marca-textos já inventados.
E mais talvez, porque te chamem de Princesa,
Soube beijar-te com umidade e equilíbrio,
Com o decoro, ardor e doçura devidos...
Mas cheio dos desejos e sonhos de adolescente.

A primalhada toda, aqueles novos íntimos
Chamados parentes...
Meninas-praia, arraia, pau de sebo e jardins...
Tantas ocasiões de ventura
Para esparramar meu corpo, mal educado
Pela cidade assoberbada, premida capital.
(E como a gente brincava!)

Enquanto minha avó com inabalável temperança
Testava o valor de sua culinária,
E cuidava, firme, de todos nós.

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