sexta-feira, 11 de setembro de 2009

MANHATTAN, 11 DE SETEMBRO

Setembro nem bem começou e nos ofertava primavera.
Ao norte do equador chegava outono
De folhas tristes caindo livres e sem vontades.

Precisou um avião, esse objeto de encontros
Para quebrar a tepidez no ir e vir das estações.
Precisou um quase anti-espanto,
Espanto dissimulado, aguado, maldito.
Provando que o bélico encerra
A simplicidade do mais simples dos bichos.

Arrastava-se o pendão dos vencidos, bíblicos,
Dos tempos de profetas malditos,
Tempos de Elias.
Findo o espetáculo,
Era olhar para o céu do oriente sem ter oriente.

Caixas de ressoâsias aprontaram-se para explodir...
Mas como fosse festa.
Enfeitara-se a estrada em pantomima.
Apertaram-se os dedos devotos ascenderam-se faróis.
Entre pára-quedas, bolsas e bombas imaginadas,
Numerosas feito rostos do inimigo (im)possível.
Dançou-se outra vez a  valsa-guerra
De clãs em chãos inchados, íamos
Ao futuro rubro de ruminâncias.

Corações de carne desabaram mais ligeiro
Que a lividez fantasmal do concreto.

Manhattan, ilha PreFerida de Hollywood
Albergou a histeria dos seus,
Filhos: pródigos, medrosos, raivosos, carentes.
E suas mães pavorosas,
Cegas e mudas em seu pranto.

Alguma gente culta entre os cantos do mundo
Parecia sofrer duma obscura teratologia.
Pois ferido o opressor e rompida a calmaria,
Talvez tenham tido medo, e dito para si:
"Não me culpo, não faço bolsas nem guerras!"
E assim se pôde sentir vingado e compadecido,
Pelos irmãos e inimigos.

Todos iguais em seu ocultamento
De arte de vanguarda e decadência.

Era preciso nunca ter estado lá
Para saber o que aconteceu.
Como num script familiar e todo limpo,
Mas sem final feliz.
Manhattan... Ilha de sonho e sombra
Num pequeníssimo mar.

Acabaram-se os grandes mares
Cheios de fantasmas e mistérios.
Apenas esse concreto brônzeo,
Gigantesco monólito vencido em ruínas.

E era estranho que todo mundo soubesse
Que a vida persegue um fio de instinto.
Silêncio que fala à carne…
Dia de sol nascido d’outro jeito.

A vacuidade antianalítica da TV, nervurosa
De excitamento se quer mais realista que o rei.
Certa de que aquela guerra seria sua,
Declarada e ganha, arregimentada para ela... Por ela...
(E a baixíssimos custos com cenários)

Quantos holocaustos serão esquecidos
Para que outros ardam prosperamente?

Agora não mais 1964, Vietnã, vis Pinochet's;
Não mais o coro de tantos africanos, latinos, palestinos.
Bendito bárbaro! O que seria do civilizado sem teu visgo?
Não há como viver nessa terra sem ser um pouco ladino!

Apavora a espera do estampido breve.
Sangue e olhos:  pólvora! Certeza breve: pólvora!
Repetida e retocada engasga apneia: pólvora! 
Canção do escoteiro marchante: 
Vai bom soldado do queixo quadrado! Vai!
Pólvora! "Mães que cantam a mesma prece!"
Pólvora! Crianças, são só crianças...
Forte cowboy, fiel pistoleiro, vai!
Pólvora! Eles sabem o que fazem, pai, não perdoai...
Bravo ianque a empalar o estrangeiro, vai!
Pólvora!
Sempre haverá lobos entre cordeiros, vai!
Incinerar o inimigo, conquistar a paz...
Com pólvoras... Vai...




OBS: Texto escrito originalmente entre 11/9 e 13/9/2001. Também, não ouvindo o conselho de Drummond, de que não se deve fazer poesia sobre acontecimentos... Mas continuo pensando que ele tinha e tem razão...

4 comentários:

  1. Para não discordar de Drummond, basta encarar como uma crônica bem rimada.

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  2. Oi Moacir! Viciei na Nave das Horas!!!
    Beijos, Raquel

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  3. Pois é Robson, é uma idéia. Mas achei que o texto ficou meio pesado - mas não por causa do tema. Acho que forcei um pouco o texto, não sei bem.

    Bom... Valeu

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  4. Oi Raquel

    Então, que legal que gostou. Se for Raquel que eu tô pensando, sei que passo or olhos atentos.

    Valeu
    Bj

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