sábado, 19 de setembro de 2009

MALVADA MULHER


Loucos foram os dias em que me hospedei sob teus cuidados...

Sendo cravo o que sobrara daquele pote alucinante,
E não os ferrões da inoportuna formiga,
Aceito novamente outro bocado dos prazeres
Que me tens ofertado com excitação crescente,
Por todos cômodos da casa e a qualquer hora do dia
Em que me procuras. Incansável, diligente.
E eu, excitando-me, sou-te
Sempre mais grato e servil aos teus encantos.

Acepipe selvagem e sumarento,
Que sentada, satânica e descaradamente
A me fitar, descansava por entre as coxas,
Observando atentamente minhas emoções e sentimentos
Nos mais íntimos gestos.

Não! Murmuro a mim mesmo.
Quero parar, preciso parar, pois sou homem comprometido...
Mas não sei mais parar...
Distanciar-me dos prazeres fáceis
Saídos de tuas habilidosas mãos...
Cobiço nevrálgico;
Cobiço débil, lábil, febril;
Sensualidade de tantos aromas luxuriantes;
Explodo!
Mordo e devoro, chegando mesmo às regiões mais molhadas.
E continuo, cobiçando ainda mais,
Com olhos, língua, boca à dentro.
Após tudo consumado, já completamente vencido,
Deixo escapar um último gemido de prazer...

Corroídas minhas forças, quero inexistir.
A razão reclama, mas o corpo diz: volta!
Jaz incapaz de seguir.
Pérfida mulher, o que me deste,
Desde o dia em que cheguei até a hora da partida?
O que fizeste comigo, ao ponto de tornar-me tão submisso e amolecido?
Confesso.
Sei muito bem que com isso, faltei gravemente
Para com aquela a quem entreguei minhas maiores esperanças.
(Por ela, em segredo, havia feito até promessas e simpatias)

Recaindo, de exceção em exceção, creio-me vil,
Descumpridor dos valores mais elevados
Da civilização que partilho.
Tudo perdido...
Já ouço os amigos e parentes batendo-me à porta:
Fraco! Farsante! Traidor!
Estou sujo...

Pois tu, insistentemente, e eu, sem as vergonhas devidas
A tudo cedi em acordo com tua doce acolhida.
Duplamente grato e atormentado, não resisto ou decepciono
Teus achegos e rendo-me - só mais uma vez...
Mas sempre é "só mais uma vez..."

E assim foi, com uma tal Dona Amália,
Fabulosa cozinheira maldita!
Faminto, devorei...
A sua gostosa;
A sua...
Irresistível compota de goiaba!
E tudo o mais em sua fascinante doceria.
Mas comendo-a, novamente engordei e, engordando,
Deixo traída, maculada, toda sofrida a minha frágil... Dieta!


Inspirado em Drummond, em seu texto sobre o pernilongo - outro tema com o qual, aliás, me identifico bastante...

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