domingo, 26 de julho de 2009

A MENINA MORTA (A minha irmã, Fernanda)

Certa vez, minha irmã me falou de Dora, uma criancinha bonita que às vezes conversava com ela, lá em casa, e que eu nunca tinha visto. Só para provocá-la, dizia gracejando que ela estava mentindo, ou então que estava ficando louca. Mas veja, finalmente conheci Dora! (Eu já sei quem é Dora, minha irmã) É a menininha morta que visitou meu sonho. Ela é semelhante a uma irmãzinha mais nova, que temos de cuidar. Estende suas mãos pequeninas e diz: Me carregue! E quando carregamos, é ela quem nos sossega, e faz da noite velocíssima, sua esteira de brinquedos. Tem medo de bicho papão e do boi-da-cara-preta; reza o pai nosso e chama por seu anjinho da guarda. Mas acredito ser ela quem nos guarda, da nossa tristeza cotidiana, e nos aperta o coração quando tentamos a conveniência de não amar... Ela toca xilofone de teclas coloridas, e tira dele sons naturais... Blin Blão, Blin Blin, Blão... Enquanto cantarola outra cantiga qualquer... Também atira brinquedos em mim, e os espalha democraticamente pelo chão, e diz que sou bobo, que não sei brincar. Ela disse que sempre que eu quisesse, me visitaria: às vezes, só em som, outras, em cheiro, outras apenas seria o seu riso de doce partido, com os dentes e cantos da boca melados de chocolate. E me puxaria o cabelo, e me entortaria as pernas de tanto pular.

2 comentários:

  1. Não assisti ainda a filme, mas a semelhaça dos títulos me estimulou a publicar esse texto esquecido. Um texto em formato um pouco diferente dos outros, é verdade. Mas achei que podia caber...

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